terça-feira, 30 de junho de 2009

ENCONTROS, DESENCONTROS E REENCONTROS

.............................................................................................................................................Carlos Edyl

Assim como muitos, passei a vida esperando o soar de trombetas por anjos anunciando o momento de ser feliz. De tanto que esperei, aprendi a falar a língua dos anjos. E por um lapso, olhei para o passado e percebi os tantos instantes que, por desatenção, por alienação, por várias outras características humanas que me acompanharam, deixei escapar a Felicidade já que, criança ainda, acreditava numa felicidade mais intensa num amanhã que me viria próximo.

Após esse lapso de entendimento do passado, reponho minha atenção ao presente e ao(s) futuro(s) que de hoje será resultado. Teço com o anjo uma cumplicidade tamanha que nos permite mergulhar na profundidade azul do céu que nos é possível. Lembro que “(...) pouco de mim existia nos instantes e horas que muito de você me havia (...)”. E o que sou é conseqüência desse desencontro. Aliás, desconfio que tudo é conseqüência de desencontros. Os encontros, quando muito, atendem as expectativas geradas, concretizam equivocadas tantas expectativas. No fundo, o encontro é um grande desencontro de seres idealizados que nos abandonam quando confrontados com a realidade e suas impossibilidades.

Se o encontro muitas vezes é um esbarrão que faz cair às máscaras platonicamente imaginadas, e os desencontros proporcionam saudades sólidas de momentos que nunca aconteceram, o reencontro por sua vez não nos pega desprevenido, um esbarrão como um súbito encontro. Nem também só se faz notar após ter acontecido, doendo como uma cicatriz de uma ferida que não sofremos.

O reencontro possui algo de premeditado, só revelado após ter acontecido, movidos inconscientemente a tecer uma teia e só dela damos conta quando ela se emaranha com o que descobrimos ser o que, dentre outros nomes, se chama felicidade.O reencontro é impossível ser previsto, mesmo que a alma inteira já se prepare a isso desde a última súbita despedida. O reencontro só é possível pelos desejos da alma, e aos desejos da alma todos os acasos são aliados. Todos desígnios se justificam. Todos os deuses se rendem e assim conspiram. O tempo flui em outra vagarosidade, tornando constantes os momentos quando presentes, confirmando eternidade para sentimentos tão sublimes; se valorizando em cada instante de ausência onde doía uma dor que não se sabia

TESTAMENTO

..................................................Carlos Edyl

Deixo-te o céu
A eternidade azul do firmamento
Com estrelas a cair
encerrando inúteis esperanças
desse solo não há como sair.

Deixo-te um corpo
Muitas formas, muitos rostos
e o gosto ruim de apodrecer
tão apegado és a carne que lhe acorrenta
que só faz proteger sua própria prisão.

Fecho-te os olhos, faço-te silêncio
para que durmas e descanse
da sua própria condição
Do que és na realidade
Tão pequeno e frágil
inverso da sua imaginação.

E quando diferente,
quiser de esse sonho acordar
Para por todo o sempre ter um novo sonhar

Então nesse exato momento
Tiro-lhe a alma
Faço-te anjo
Dou-lhe asas
Livro-te do limitado pensamento
E na sala da definitiva casa
Ao infinito lhe apresento
Como meu único Testamento.

FRASES FEITAS & CONCLUSÕES IMPERFEITAS

“Descobrir as próprias vulnerabilidades traz o
respeito em relação aos sustentáculos alheios.”

Carlos Edyl
Quem é vivo sempre aparece. Quem está por cima uma hora desce. Quem se decepciona nunca esquece. São todas as frases feitas nas quais forcei a rima mas não significa que sejam verdades. Um exemplo é a grande decepção que tenho com minha memória. Não tenho o menor controle sobre ela. Mas se não me lembro daquilo tudo que gostaria, em compensação esqueço tudo que deveria. Todo dia tenho que começar tudo de novo. E fica mais fácil assim. Com esse mecanismo inconsciente de autodefesa que reduz o tédio da rotina cotidiana me oferecendo a possibilidade da descoberta inédita de um encanto imprevisto e inesperado. De forma que acabo tirando proveito disso que seria decepção. Das outras decepções nem me lembro mais. Não perco tempo para juntar rancores e guardar desaforos advindos da mediocridade daqueles que, exatamente por medíocres, me são inofensivos. Decepções maiores são aquelas geradas por expectativas equivocadas em relação a determinadas pessoas.
Passo a vida aprimorando descer. Desço nos cantos escuros e profundos da alma, e quem sabe assim eu cresço? Nesse premeditado e inverso caminho de se sentir ‘por cima’, fútil ilusão e sintoma de complexo de superioridade que, no paradoxo, atinge os ególatras e, enquanto assim, inferiores. A soberba precede a queda. E não por ironia, se manifesta acompanhada do falso discurso que renega o orgulho e a vaidade. Hipocrisia e ignorância que repudia a humana normalidade. Riqueza material, beleza física, Poder, são poderosos propulsores que transformam a imprescindível auto-estima em pernosticismo, o mais pedante. Daí a necessidade de, durante a convivência humana, transcender o instinto que não faz visível o risco dos pré-julgamentos naturais se tornarem inflexíveis. Melhor, pior, maior, menor, tudo tem seu momento. E a beleza reside na diferença. a grandeza reside nos detalhes. Vê belezas quem sabe, e quer enxergar. Vê mais longe quem enxerga pra dentro. Ninguém é mais frágil do que aquele que desconhece suas fraquezas. Descobrir as próprias vulnerabilidades traz o respeito em relação aos sustentáculos alheios. Só quem pode desfrutar da leveza do céu é quem aprende a solidez do seu solo. Negar os defeitos, própria vaidade, não significa que não existam, mas sim que se ignora sua existência. É reconhecer ignorância e insensibilidade para todos demais defeitos, virtudes, características inerentes à condição humana. Quem se acha ‘por cima’ chega a acreditar ser esta sua natureza, enquanto se revela desprevenido diante uma precária constância. E quando da hora, mesmo que tardia, mas inevitável da descida, vem maior o sofrimento por até então evitadas as próprias profundidades.
Quem é vivo sempre aparece nos porões. E é melhor descer as escadas por vontade própria, não por castigo ou por não ter mais aonde ir. Descer sem ninguém, nada, obrigar descer. Descer por descobrir precisar. E nos subterrâneos, no meio de muito que se queria escondido, descobrimos nosso exato tamanho. Temos nada mais, nada menos, que a dimensão dos nossos medos. Dos nossos sonhos. Somente quem experimenta e aprende o caminho que nos inferniza sabe desfrutar da intensidade do céu que nos é possível.
............................................................................................................................................
Carlos Edyl Santiago Filho, jornalista, como bom aquariano, habita porões e reside em profundos céus sem se preocupar em distingui-los.

QUEM NÃO SE COMUNICA, SE TRUMBICA


Carlos Edyl
O Faustão dos anos 1970, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, eternizou essa frase. Claro que ele é também lembrado pelas formas voluptuosas das Chacretes que tanto inspiraram os moçoilos de então, mas no momento deixa pra lá. A referida frase que criou certamente visando sensibilizar potenciais anunciantes, se tornou objeto de estudo em aula da faculdade de comunicação social. Não só pela óptica do pitoresco, mas por toda uma mensagem subliminar com que vem acompanhada. Bem, como eu também matei as aulas seguintes, desconheço a conclusão que se pode chegar, mas confesso que sempre tive a maior vontade de escrever um texto e usar a palavra TRUMBICA sem ter que forçar a barra. Não sei o seu significado e nem mesmo fui conferir se existe oficialmente. Mas que eu já vi muita gente boa se trumbicar por aí, isso já. Eu mesmo, viro e mexo, também me trumbico. Deduzo que não seja algo desejável, mas nunca soube de ninguém que morreu por ter se trumbicado. Imagino que seja algo como o SIFU dito pelo Lula, mas em um calão menos baixo. E a falta, ou má comunicação, não deve ser a única fonte da trumbicagem alheia. Para supervalorizar quem não se comunica (anuncia) Chacrinha contrapôs com o que seria seu inverso. Tem gente que faz de tudo para não perder uma rima. Até inventa palavras. Antes do professor Google, era mais difícil e demorado checar a existência de palavras, lugares e mesmo biografias. Mas o velho guerreiro não deixa de ter razão não. Quem não se comunica, SIFU. Admiro quem se comunica bem. Borges, Luis Fernando Veríssimo, Eduardo Almeida Reis. O Pantera na radio. Olga Bongiovanni e Leda Nagle na Tv. O Barack Obama. O Buluca, João Arbex, Valério Neder, Beto Iemini, todos aqui em Três Corações. O Zé Simão e o Tutty Vasquez. O Tabet na NET, sítio Kibeloco. Et caervas, et caervas, et caervas. Admiro mesmo outros que dominam a técnica, a arte da comunicação, mas com ressalvas quanto ao conteúdo e inconfessáveis intenções. O Diogo Mainardi na Veja. O Lula. O FHC. E continuo achando que todos esses também se trumbicam. Cada um se trumbica nos vexames cotidianos que nos são inescapáveis. Minha mais recente trumbicada foi quando comecei esse texto. O inicio seria apenas para ilustrar outro assunto que queria aprofundar. Mas me empolguei com a sonoridade e com o inusitado da palavra e acabei fazendo com que meus raros leitores também se trumbicassem enquanto tinham vã esperança de extrair algum proveito daqui. Nós NOSFU.

Carlos Edyl Santiago Filho, jornalista, teve que forçar a barra para fazer esse texto, mas aprendeu o significado de ‘trumbica’.